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Artigos e livros

Arthur – um Autista no Século XIX

By 11 de outubro de 2020fevereiro 2nd, 2022No Comments

Lançado no final de 2020 pela psicanalista Maria Cristina Kupfer, da equipe do Lugar de Vida – Centro de Educação Terapêutica, o livro Arthur – um Autista no Século XIX, da Editora Escuta, é um romance sobre um autista, filho de uma camponesa, que nasce na propriedade de uma aristocrata, no século XIX, na França. A aristocrata, Marguerite, o acolhe em sua casa e começa então seu esforço de fazê-lo desenvolver-se. Esse esforço é registrado em um diário, escrito entre 1891 e 1916. Nele, Marguerite reflete sobre a luta em que ela se engaja para fazê-lo sair de seu mutismo e entrar no mundo. Para isso, conta com a interlocução de Monsenhor Olivier, abade muito culto que ajuda a entender o modo de ser de Arthur. Arthur é depois obrigado a sair da casa de Marguerite, vítima da mesma incompreensão que o atingiu na escola.

Na segunda parte do livro, ele é recolhido na Abadia de Monsenhor Olivier e ali também escreve um diário, a partir de seus 15 anos, como escrevem hoje muitos autistas de alto rendimento sobre seu autismo. Ao final do livro, os manuscritos de Marguerite e de Arthur são apresentados a uma psicanalista, F. D. (iniciais de Françoise Dolto), que escreve, em 1941, uma carta “explicando” como ela entende este caso, e aconselhando a publicação dos manuscritos.

No posfácio, são apresentadas algumas noções psicanalíticas atuais sobre o autismo, que fundamentaram a escrita do romance, dentre elas a noção de prazer compartilhado, que marca a construção da vida pulsional e da qual o autista está privado, de acordo com psicanálise. Mostra ainda a leitura de algumas características dos autistas como imutabilidade, a memória extraordinária e a linguagem sígnica. Este livro busca transmitir, de forma romanceada, uma visão psicanalítica sobre o autismo. A distância no tempo e no espaço é uma tentativa de oferecer certo recuo ao leitor, o que poderá permitir que ele veja o autista de uma perspectiva diferente daquela organicista e reducionista, que é dominante nos dias atuais. O trabalho de Marguerite é uma maneira de apresentar o tratamento psicanalítico, avant la lettre, de um autista. A autora reúne, aqui, o que ela atravessou em seus anos de experiência com o autismo.

Para Roberto Pompeu de Toledo, “Cristina Kupfer escreveu um romance com o andamento e a sensibilidade do século XIX para tratar de um tema que vai assomar no século XXI. Com este trabalho mostra que, além de fina psicanalista, tem talento de escritora.”  Na visão da psicanalista Leda M. Fischer Bernardino, o livro é “uma combinação de conhecimento teórico-clínico, erudição e literatura. Uma viagem no tempo, que nos mostra o valor do verdadeiro encontro e da aposta na história daqueles que carregam a marca da diferença.”

Maria Cristina Kupfer

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